Ronaldo Fraga: moda, conteúdo e atitude

14.08.2017 - Bárbara Bengua e Roberta Pschichholz

Foto: Tiago da Rosa Ronaldo Fraga palestra no Fashion Meeting Lançamentos 2ª edição
Ronaldo Fraga palestra no Fashion Meeting Lançamentos 2ª edição
Só quem esteve lá pôde compreender o novo cenário da moda e seu real significado. A 2ª edição do Fashion Meeting Lançamentos teve momentos de reflexão proporcionados por Ronaldo Fraga – que levaram a plateia às lágrimas – e ápices apoteóticos, quando Dudu Bertholini entrou em cena para dar seu show.

Com diferentes perfis, as mais de 400 pessoas que lotaram o auditório do Swan Tower, em Novo Hamburgo/RS, deixaram o evento, realizado na tarde de 8 de agosto, com seus conceitos sobre o universo fashion revistos.

O evento foi aberto com as boas-vindas da gerente geral da Revista Lançamentos e do Jornal Exclusivo, Larissa Schneider. “Enquanto muitos de nós não éramos nascidos, a Revista Lançamentos já apresentava a leitores de todo o Brasil as novidades em calçados e acessórios para o varejo especializado. São 44 anos produzindo editoriais de moda da mais alta qualidade. O Fashion Meeting está em nosso portfólio para aproximar a todos que fazem parte deste mercado”, mencionou.

A programação é uma promoção da Revista Lançamentos, com patrocínio da Caimi & Liaison, Francal, Faccat, H.Maria e Unimed Vale do Sinos. Também contou com apoio da Assintecal, Morena Rosa e Vult. A realização é do Núcleo de Eventos do Grupos Sinos.

Poesia em tempos áridos

A bagagem cultural e o engajamento social de Ronaldo Fraga aparecem em tudo o que faz. Com o propósito de repensar a moda além da roupa, o estilista é reconhecido nacional e internacionalmente por suas coleções que trazem à tona pautas que abrem espaço para as minorias. “Eu enxergo uma necessidade de a moda estabelecer diálogo com outras frentes. Afinal, trata-se de um vetor extremamente importante e que demanda discussão”, argumenta.

Para ele, está mais do que na hora de todos trilharem novos caminhos e um deles pode ser a tão falada identidade da moda brasileira. “Temos de imprimir alma em nossos produtos e justificar a existência deste ofício que tanto amo”, defende.

Inquieto e sempre à procura de desafios, Ronaldo foi atrás de respostas na Amazônia, em poetas do século passado e na literatura, mas decidiu focar-se no seu entorno. “A verdade é que vivemos uma realidade extremamente árida. Mas acredito que esse é o grande poder da arte – e talvez da moda: enxergar poesia em tempos áridos.”

Pièce de résistance

Os movimentos migratórios são uma das causas abraçadas por Ronaldo. No seu ponto de vista, esta nova miscigenação e dinâmica social irão mudar tudo: desde a forma que comemos até o que vestimos. “O ponto de partida das pessoas que precisam sair de seu país são as suas roupas. O único elo tangível que elas têm com a sua história são suas vestimentas”, observa.

O documentário ‘Resistência’, exibido em primeira mão no Brasil neste Fashion Meeting Lançamentos, provoca exatamente este debate e o tema foi a inspiração de sua penúltima coleção. “Se a moda é um reflexo do nosso tempo, temos de falar sobre o que estamos vivendo. E, atualmente, vivemos tempos espinhentos, mas, de alguma forma, conseguimos enxergar poesia. E a transformação vem pela poesia”, reflete. O estilista ainda denuncia a situação de que esses refugiados também são explorados como escravos para alimentar a indústria da moda. “Não existe mais diferença entre os problemas do mundo e os nossos.”

El Día que Me Quieras

O universo trans foi a principal referência do último desfile de Ronaldo Fraga. Eis aí uma das questões mais latentes da realidade do País. “O Brasil é recordista em crimes contra transexuais e travestis. Ou seja: crimes contra a diferença”, enfatiza. Defensor da diversidade, o estilista não poderia deixar de abordar este assunto. Além de motivar uma coleção, também resultou em um documentário, em vias de ser exibido no congresso sobre diversidade para chefes de estado, organizado pela ONU.

“Quando achávamos que um desfile iria tão longe?”, questiona, emendando outra pergunta: “Mas e o que isso tem a ver com moda?”. A resposta está na ponta da língua: tudo. “Todas as modelos que desfilaram essa coleção me relataram sobre a sensação de libertação quando compraram o primeiro vestido, o primeiro salto alto, o primeiro acessório feminino. Isso é a moda mostrando sua força.”

Sua postura mudou quando percebeu que havia muita crueldade por trás do fast fashion. “Um sapato de 20 reais pinga sangue”, declara. E menciona que o consumidor tem papel determinante neste cenário. “Se você diz que se preocupa com questões sociais, mas compra calça de 5 reais, me desculpe, mas você não se importa”.

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