Os nanomateriais têm modificado o desempenho, o peso e a durabilidade dos calçados. Para o doutor em Química e professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Oswaldo Luiz Alves, este tipo de tecnologia ainda trará inovações radicais, nos próximos anos, a partir de nanosistemas. “Algumas experiências já vêm sendo feitas em laboratórios do mundo. Vejo a possibilidade de substituição de materiais tradicionais e comumente empregados na indústria calçadista por novos componentes, produzidos a partir de nanocompósitos”, afirma.
NANOconforto
CALÇADOS resistentes
A tecnologia nano pode agregar ainda mais resistência aos calçados de segurança. “Uma das propriedades é garantir a resistência a componentes químicos, por exemplo”, demonstra o especialista da Unicamp.
Outra possibilidade da nanotecnologia é incrementar a eletrônica embarcada nos calçados. Alves menciona que ela já propicia a introdução de GPS em calçados para auxiliar pessoas com problemas como Alzheimer, que se perdem de seus familiares, além de sensores.
Novos materiais
Entre os novíssimos materiais que já estão sendo usados para a produção de calçados, segundo o professor Oswaldo Luiz Alves, estão os nanotubos de carbono, altamente resistentes e leves, para produção de saltos e chuteiras, e o grafeno, 200 vezes mais resistente que o aço, para a produção de sapatilhas de ciclismo.
Quando a moda entra em cena
Cristina Sant’Anna, diretora criativa e de estratégias do Studio Cristina Sant’Anna e colunista da Revista Lançamentos, destaca que tem sido de interesse de marcas de renome do mundo da moda os constantes investimentos na durabilidade dos componentes. E a nanotecnologia se enquadra nesta realidade. “Os efeitos ecológicos da aplicação de materiais nanotecnológicos com funções avançadas para o acabamento de superfície de couro são prioridades para a indústria do couro e contribuem para aumentar o valor agregado e a durabilidade dos artigos”, justifica Cristina.
Na PRÁTICA
Uma das empresas do cluster que têm investido em nanotecnologia é a Dublauto Gaúcha (Ivoti/RS). Os primeiros passos foram dados em 2005, quando a concorrência chinesa provocou a busca por formas de valorizar ainda mais os seus produtos. Desde então, uma série de novidades foi desenvolvida, em conjunto com centros de pesquisa e universidades e com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Entre os produtos da Dublato que utilizam nanotecnologia, os destaques são os tecidos que repelem água – empregado no cabedal do calçado; a palmilha Sequinha; e o forro Dry Soft, que têm tratamento antimicrobiano.
Conforto térmico
Desde 2008, a empresa já registrou várias patentes de produtos que utilizam a nanotecnologia na área calçadista, abrindo espaço para outras áreas. As palmilhas e outros componentes internos dos calçados têm como funções principais absorver o impacto das pisadas e manter os pés secos e com uma temperatura adequada.
RECONHECIMENTO
Com uma palmilha tecnológica, a Nanoplus, startup de PD&I da Dublauto Gaúcha, conquistou, em novembro de 2016, o 1º PITCh - Prêmio de Inovação com Tecnologias Chaves (KET´s), na Categoria Produto ou Processo Mais Inovador. A premiação ocorreu em São Paulo/SP, durante a Nano Tradeshow – principal feira de nanotecnologia no Brasil.
A palmilha tecnológica tem três camadas. A primeira, composta por tecido com tratamento antimicrobiano (nanotecnologia da prata), nanocápsulas de óleos essenciais fitoterápico e hidratante. A segunda tem EVA e a terceira traz manta ultra-absorvente agulhada ao EVA, criando drenos para a passagem do suor e retendo-o. “Pela manta ser agulhada no EVA também reduz uma etapa de dublagem no processo”, explica Evandro Wolfart.
Veja entrevista em vídeo com Evandro Wolfart, da Dublauto Gaúcha, aqui.